Liturgia

1.1 LITURGIA

     Liturgia é uma palavra da língua grega que quer dizer: Ação do povo, ação em favor do povo. É a ação de um povo, reunido na fé, em comunhão com toda a Igreja, para celebrar o Mistério Pascal – Morte e Ressurreição de Cristo, presente na Assembléia, oferecendo-se ao Pai como culto perfeito.

     O ponto culminante de uma comunidade eclesial é a celebração comunitária, onde todos expressam sua fé comum; ouvem o mesmo Senhor, Salvador e Libertador; agradecem os favores de Deus; cantam as mesmas canções. Aí todos louvam a Deus e os laços do amor fortalecidos. Cresce a fraternidade e o Povo de Deus se reanima, sobretudo nos Sacramentos, para continuar a luta pela construção do Reino.

     Nenhuma atividade pastoral pode realizar-se sem referencia à liturgia. Qualquer celebração tem sentido evangelizador e catequético. Toda ação pastoral terá como ponto de referencia a liturgia, na qual se celebra a memória e se proclama a atualidade do projeto de Jesus Cristo. (Conf. Doc. 38 —CNBB).

     À luz da Constituição litúrgica Sacrossanctum Concili, podemos dizer que é: “uma ação agrada pela qual através de ritos sensíveis se exerce, no Espírito Santo, o múnus sacerdotal de Cristo, na Igreja e pela Igreja, para a santificação do homem e a glorificação de Deus” (cf SC, 7).

     Celebrar a liturgia hoje é viver a dimensão do presente dentro da ótica de Cristo. É celebrar os momentos da vida, procurando “fazer memória” do que Jesus fez e atualizando suas decisões voltadas para o Pai. É a comunidade que celebra a vida. Através de Cristo-Ressuscitado, presente nos sinais-símbolos-sacramentais, a Igreja continua a história da salvação, procurando dar “aqui e agora” a resposta ao Plano do Pai.

     Outra Definição que possuímos da liturgia é, conforme o documento de Medellín: “A liturgia é a ação de Cristo Cabeça e de seu corpo que é a Igreja. Contém, portanto, a iniciativa salvadora que vem do Pai pelo Verbo e no Espírito Santo, e a resposta da humanidade naqueles que se enxertam, pela fé e pela caridade, no Cristo, recapitulador de todas as coisas. A liturgia, momento em quer a Igreja é mais perfeitamente ela mesma, realiza indissoluvelmente unidas, a comunhão com Deus entre os homens, e de tal maneira que a primeira é a razão da segunda. Se antes de tudo procura o louvor da Glória e da graça, também está consciente de que todos os homens precisam da Glória de Deus para serem verdadeiramente homens” (Medellín – lit. 9,2)

 

 

1.2 O QUE SE CELEBRA


Celebrar significa tornar célebre um determinado momento ou acontecimento da vida. O ato de celebrar faz parte da vida humana, é uma ruptura da rotina cotidiana. Celebrar é comemorar, isto é, atualizar na memória algo em comunhão com alguém. “Em todos os tempos e lugares, homens e mulheres de todos os meios e níveis sociais, de todas as culturas e religiões, costumam realçar, ao longo da existência, aspectos fundamentais da vida individual, familiar, social e religiosa” (Doc. CNBB – 43 Nº. 36) e este realce se dá no ato celebrativo.

 

A celebração “nos leva a descortinar a grandeza de nosso ser e de nosso destino de imagens de Deus”. Ela nos abre espaço para vivermos em comunhão que é o anseio profundo de nosso ser social” (Doc. CNBB – 43 Nº. 38).

 

Como toda Celebração, a liturgia envolve um grande acontecimento: trata-se de celebrar o MISTERIO PASCAL – a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação de Cristo. E é este o acontecimento central de nossa fé. (Doc. CNBB – 43 Nº. 39).

 

Hoje, somos convidados “a celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo”.

 

 

1.3 QUEM CELEBRA


O Catecismo da Igreja Católica afirma que “é toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra” (CIC 1140).

Jesus Cristo é o único sacerdote, o celebrante principal. Nós somos convocados pelo Espírito Santo para celebrar com Jesus e com os demais membros da comunidade.

Celebrar é participar como sujeito e não como mero assistente. Na celebração litúrgica a pessoa torna-se participante de toda a vida de Jesus de Cristo (Mistério Pascal) e da vida de seus irmãos e irmãs inserida neste mistério de salvação. Portanto, quem celebra é toda a comunidade reunida em assembleia.

O êxito de uma celebração está diretamente ligado à diversidade de funções atribuídas aos membros de sua assembleia. De fato, a assembleia litúrgica “é uma comunidade reunida, mas nunca de modo massificado. Não é massa nem público. Articula-se em torno de diversas atividades específicas distribuídas entre seus diversos membros”. Sabemos também que “essas atividades, funções e papéis são, pois, verdadeiros serviços ou ministérios, porque ajudam a assembleia” a celebrar a vida de forma plena.

Dentre os principais serviços lembramos a “acolhida, leitura, canto, oração, ofertório, assistência à mesa-altar, presidência”.

 

 

1.4 MISTERIO PASCAL

Costumamos dizer que liturgia é a celebração dos mistérios de Deus. Que mistérios são esses? Quando falamos em mistérios de Deus queremos indicar os projetos de Deus que se realizam na pessoa de Jesus Cristo: a redenção e a salvação de todos os homens, a implantação do Reino de Deus no mundo, a participação de todos da vida e da felicidade de Deus...

 

Na liturgia celebramos o Mistério central da vida de Cristo que é seu Mistério Pascal que consiste na sua paixão, morte e ressurreição. E pascal deriva-se de Páscoa, que significa passagem. Portanto, mistério pascal é a  passagem de Cristo  pelo  sofrimento  e morte  até  a  sua  ressurreição-glorificação.

 

Quando se fala em mistério pascal não se deve pensar somente em Jesus. A páscoa de Jesus está unida  à páscoa do povo de Deus. A páscoa é páscoa do Cristo total:  cabeça  e membros. Portanto, a liturgia celebra a páscoa do Senhor e a páscoa do se povo. Celebra os sofrimentos, a morte, a ressurreição-glorificação de Jesus; mas celebra também, por um lado, as lutas as dores, as angústias e a morte do nosso povo, e por outro lado, celebra suas conquistas, alegrias e esperança em vista de uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade.

Deus organizou, um plano que passa pelos profetas e por Cristo chega até nós. E ele quis o prolongamento deste plano na história dos homens. A liturgia se inscreve na continuidade da Obra de Deus desde a criação até a Parusia - o fim dos tempos, quando na Nova Jerusalém celebramos de um modo perfeito e definitivo a liturgia celeste (SC, 8).

 

Para unir,  reunir e congregar  todos os homens em Deus, Cristo permanece presente, atual, vivo, hoje e sempre na celebração litúrgica. Ele é o litúrgico por excelência. É altar e oferenda, vítima e holocausto. Nele encontra-se a plenitude do culto divino. Toda a vida de Cristo é litúrgica e sacerdotal. Está a serviço:

  • Da glorificação de Deus (“Eu te louvo, ó Pai” – Lc 10,21);
  • As santificação dos homens (“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” – Jô 8,32);
  • Da reconciliação de todos com Deus (“Eu não quero a morte do pecador, mas que ele
  • se converta e viva” – Mt 9,13).

Daí é que podemos dizer que  a  liturgia  é  a  Igreja viva  como:  sacramento,  sinal  e instrumento de união com Deus e de Salvação dos homens.

 

A Liturgia é vida para a Igreja: A vida da Igreja resume-se no serviço de Cristo que salva. Por isso, a Igreja é sinal, instrumento e sacramento visível de unidade e salvação. Este serviço é de modo especial a liturgia – serviço em favor do povo. Nela a Igreja atualiza o Mistério Pascal do Cristo para  a  salvação do mundo  e  louva  a Deus  em nome de  toda  a humanidade. A liturgia é o momento culminante da vida da Igreja, da atuação do Espírito Santo e da perseverança do Cristo Glorioso. É a vida da Igreja onde o Cristo se faz presente, realizando a salvação do seu povo. Liturgia é, portanto, a salvação celebrada atualizada, acontecida e vivida.

 

 

1.5 HISTORIA DA LITURGIA

 

 “Para conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um progresso legítimo, faça-se uma investigação teológica histórica e pastoral acerca de cada uma das partes da liturgia que devem ser revistas”. (SC,23).

 

O que Cristo deixou determinado com relação a liturgia?

Jesus Cristo não deixou nada  escrito.  Não traçou nenhum ritual de cerimônias religiosas. A grande liturgia de sua vida foi, de fato, a sua entrega, na cruz, oferecendo-se como sacrifício, ao Pai e aos homens.  Os apóstolos, porém, assistidos pelo Espírito Santo, organizaram as primeiras comunidades e criaram maneiras novas para o culto das mesmas.

Tudo foi sendo conforme a realidade e necessidade do povo. A Igreja vai se encarnando, se aculturando, se adaptando conforme as necessidades de cada lugar e de  cada  época. E isto é bem claro com relação a    liturgia. No principio, os apóstolos, como os primeiros cristãos, continuam freqüentando o templo para oração. A Igreja, no seu começo, não possuía um culto próprio diferente do culto do judaísmo. Mas, ao mesmo tempo que freqüentavam o templo, os cristãos iam criando formas próprias de culto. O mesmo vai acontecendo nas casas.

Ai, os cristãos se reúnem para a sua liturgia, celebrando a nova aliança com morte de Cristo pela renovação da Ceia Pascal do Senhor.

 

 

As primeiras Liturgias

 

“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. (At 2,42).

 

Nossa liturgia tem sua origem (fato): A nossa liturgia tem a sua origem na última ceia de Jesus Cristo com o grupo dos 12 apóstolos. Dela falam os evangelistas Mateus (26,26-28). Durante a refeição • Jesus tomou o pão e, depois de ter pronunciado a bênção, ele o partiu; depois, dando-o aos discípulos, disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo • A seguir, tomou uma taça e, depois de ter dado graças, deu-a a eles, dizendo: Bebei dela todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado em prol da multidão, para o perdão dos pecados • Marcos (14,22-25) e Lucas (22,19-20) e o apóstolo Paulo (1Cor 11,23-25). Eles ainda apresentam o pedido de Jesus “Fazei isto em memória de mim”.

 

Liturgia será sempre memória: De Jesus Cristo. Ou melhor, da sua Paixão e morte, ressurreição e ascensão. Para nós a celebração eucarística é um “memorial” – nela recordamos a ceia de Jesus na véspera de sua morte, na qual se entregou ao Pai por nós. Porque os cristãos das comunidades primitivas tinham o costume de reunir-se no domingo? Porque foi no domingo – “o primeiro dia da semana” – que o Senhor Jesus Cristo Ressuscitou.

 

“Devido à tradição apostólica que tem sua origem no dia mesmo da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal. Esse dia Chamava-se justamente dia do Senhor ou domingo. Neste dia, pois, os cristãos devem reunir-se para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os  regenerou para a viva esperança, pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.” (1Pd 1,3).Por isso, o domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fieis, de modo que seja também uma dia de alegria e de descanso do trabalho”. ( cf. SC, 106).

 

O modo como as primeiras comunidades celebravam a eucaristia? (Atos 2,42-47)

Eles eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos e à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações • O temor se apoderava de todo mundo: muitos prodígios e sinais se realizavam pelos apóstolos. Todos os que abraçaram a fé • estavam unidos • e tudo partilhavam.Vendiam as suas propriedades  e  os  seus  bens  para  repartir  o  dinheiro  apurado  entre  todos,  segundo  as necessidades de cada um. De comum acordo, iam diariamente ao Templo • com assiduidade: partiam o pão em casa, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram favoravelmente aceitos por  todo o povo. • E o Senhor ajuntava cada dia à comunidade os que encontravam a salvação.

 

O que aprendemos da Liturgia dos primeiros Cristãos: Os primeiros cristãos não apenas celebravam a  liturgia, mas  vivia  a  liturgia. Desse comportamento  podemos  retirar algumas lições para nós, hoje:

  • Constata-se, em primeiro lugar, uma estreita ligação entre a celebração e a vida deles. A celebração da entrega do Corpo e Sangue do Senhor Jesus era a expressão da doação de suas vidas pelos outros. Todos se preocupavam pelos problemas de todos “Um por todos e todos por um”.
  • Descobre-se também a presença de uma comunidade ativa por ocasião das celebrações, de onde se tirava força para viver a mensagem libertadora de Jesus Cristo.
  • Denuncia-se ainda a barreira que impede a celebração autêntica: o egoísmo de alguns ricos  que  se  uniam em grupos  fechados  e marginalizavam os  pobres. Aparece  a exigência da mudança de vida, para que a Eucaristia seja, de fato, sinal e instrumento de transformação social, para criar verdadeira comunhão e não apenas reunião.  (cf  1Cor 11,17-34).

 

(1Cor 11, 17-26). Isto posto, eu não tenho de que vos felicitar: as vossas reuniões, muito ao invés de vos fazer progredir, vos prejudicam. Primeiramente, quando vos reunis em assembléia, há entre vós divisões, dizem-me, e creio que em parte seja verdade: é mesmo necessário que haja cisões entre vós, a fim de que se veja quem dentre vós  resiste a essa provação • Mas quando vos reunis em comum, não é a ceia do Senhor que tomais. Pois na hora de comer, cada um se apressa a tomar a própria refeição • de maneira que um tem fome, enquanto o outro  está  embriagado • Então,  não  tendes  casas  para  comer  e  beber? Ou desprezais a Igreja de Deus, e quereis afrontar os que não têm nada? Que vos dizer? É preciso louvar-vos? Não, neste ponto eu não vos louvo.

 

De fato, eis o que eu recebi do Senhor, e o que vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou pão, e após ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, em prol de vós•,fazei isto em memória de mim• . Ele fez o mesmo quanto ao cálice, após a refeição, dizendo: Este  cálice  é  a nova Aliança no meu  sangue;  fazei  isto todas  as vezes que dele beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. 

  • Sente-se a ligação entre a missa e Igreja: pela Eucaristia a Igreja se constrói anunciando, denunciando e vivendo Jesus.

 

LITURGIA PÓS CONCILIAR

 

No dia 4 de Dezembro de 1963, o Papa Paulo VI promulgava a Constituição “Sacrosanctum Concilium”. O primeiro documento do Concílio Vaticano II estabelecia os princípios e as diretrizes para a reforma e o incremento da vida litúrgica na Igreja.

Havia tempo que sentia-se a necessidade de rever a liturgia, pois, ao longo dos séculos, havia perdido sua centralidade e seu significado na vida da Igreja. Com este documento, a Igreja devolveu a liturgia ao povo, pois, até então, sobretudo a partir do segundo milênio, o sacerdote celebrante tornara-se o dono e monopolizador da liturgia, enquanto que o povo havia-se acostumado a assistir passivamente. A própria linguagem usada dificultava a compreensão daquilo que era celebrado. Não raramente, durante a Santa Missa o povo simples, que não entendia o latim, acabava por rezar o terço.

 

REFORMA LITÚRGICA

O desejo do Concílio, com relação à liturgia, pode ser traduzido pela frase mais conhecida da Constituição Sacrosanctum Concilium: “A liturgia é o cume para onde se dirige toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde brota a sua força” (SC 10). Ou seja, a liturgia é o coração de tudo! É na liturgia que a gente renova a fé e encontra a força para a missão, pois nela se encontra a presença mais forte de Deus.

 

Este documento ajudou muito na reforma conciliar, já que provocou uma revisão do modelo de Igreja que nós tínhamos, propondo uma igreja mais participativa, ministerial e preocupada em buscar e se adaptar às diferentes culturas, à índole dos povos (SC 37-40), às necessidades de cada região (SC 63 e 65), à riqueza e peculiaridade musical (SC 120).

 

 

EDUCAÇÃO LITÚRGICA

Na igreja Católica, a liturgia é a grande pedagoga, a educadora que forma o povo para a vida cristã. O cristão não é aquele que segue Jesus Cristo! A preocupação do Concílio não consistia, portanto, apenas em introduzir mudanças nos ritos, normas e formas exteriores na liturgia, mas, e sobretudo, desencadear uma verdadeira educação litúrgica dos fiéis.

As comunidades deviam se preocupar para que a Liturgia se tornasse realmente mestra de vida cristã. Na liturgia, os elementos educativos são muitos: palavras, símbolos, músicas e silêncio, gestos... Nenhuma dessas linguagens é mais ou menos importante que as outras, mas todas precisam ser usadas na justa medida e igualmente valorizadas.

Alguns exemplos: Se uma celebração é marcada pela falação, ela tem tudo para se tornar chata. Ninguém quer participar de uma celebração para ouvir discursos o tempo todo. Também, se predominar a música, a ponto de abafar momentos de silêncios, a celebração torna-se maçante, sem tempo para ouvir a Deus que se manifesta no silêncio. O mesmo vale para os sinais e símbolos. Se a todo momento um novo símbolo ou gesto é introduzido, vira um festival de novidades, com o perigo de dispersar em vez de concentrar.

A liturgia ensina que o equilíbrio está em celebrar com todas as linguagens, sem valorizar demasiadamente uma delas. Por exemplo: o gesto de partir o pão, feito pelo padre antes da comunhão, é claramente um convite à partilha de vida entre nós. O gesto fala por si mesmo, não há necessidade de explicações.

 

 

OS DESAFIOS CONTINUAM

Dom Geraldo Lyrio da Silva, responsável pela dimensão litúrgica da CNBB, afirma que há ainda sérios desafios a enfrentar no campo da liturgia. O primeiro deles é a própria aceitação e aplicação da reforma litúrgica. Em seguida, Dom Geraldo aponta a necessidade de uma melhor formação dos agentes da pastoral litúrgica: seminaristas, padres, leigos e religiosos. Urgente é também a inculturação da liturgia para que ela se liberte do ritualismo e crie nos fiéis a consciência da presença transformadora de Cristo, levando a um compromisso solidário com a transformação do mundo.

A Liturgia, sendo momento fundamental da vida cristã, sempre está em pauta nas conversas e reuniões de nossas paróquias. Preocupa o fato de muitos até deixarem de participar das celebrações por considerarem que, da forma como são realizadas, nada acrescentam em suas vidas. Essas dolorosas constatações ganharam espaço entre os liturgistas que, embora considerem necessário evitar e combater os desvios e abusos decorrentes de uma interpretação excessivamente livre das novas diretrizes, afirmam ser importante saber abrir-se, sem preconceitos, à “novidade do Espírito”.

 

COMUNIDADE E LITURGIA

O Papa Paulo VI, certa vez, referindo-se à celebração eucarística, assim se expressou: “É um fato muito grave que haja divisão naquilo em que o amor de Cristo nos congregou na unidade, isto é, na liturgia”. De fato, quando a vida comunitária não se realiza no dia-a-dia, também a comunicação na liturgia fica prejudicada.

Constata-se facilmente que quando numa comunidade predomina o autoritarismo, as pessoas encontram uma tremenda dificuldade para participar ativamente e serem protagonistas nas celebrações litúrgicas. Ao contrário, onde existe solidariedade, convivência, ajuda mútua e fraternidade, aí as celebrações são mais animadas e comunicativas, sinal evidente que as reformas conciliares já deixaram seu sinal. Sem dúvida, os fiéis hoje participam mais das celebrações e sentem-se mais cativados e envolvidos.

Com maior espontaneidade as pessoas se cumprimentam ao chegarem para as celebrações e param para conversarem e viverem momentos intensos de relacionamento pessoal. Com isso as comunidades ficaram mais animadas e alegres. Hoje o povo tem mais condições para falar, cantar, se aproximarem dos sacerdotes, dos ministros e de dar sua opinião.

 

O CORPO E O ESPÍRITO

Quanto aos gestos, como agitar o corpo e os braços, bater palmas, etc., isso não é propriamente uma novidade, mas sim uma restauração. Para os primeiros cristãos, a Eucaristia (ação de graças) era efetivamente um ato de louvor, uma expressão comunitária de alegria e confraternização. Nela, eles festejavam a grande notícia e a realização da salvação. Louvar a Deus com o corpo era comum entre os judeus, como mostram os salmos 149-150, ou como se vê no episódio em que o rei Davi dança diante da Arca da Aliança (2Sm 6,5).

A participação corporal tem uma função decisiva na celebração, pois o verdadeiro louvor a Deus reside no coração, mas é preciso proclamá-lo com os lábios, gestos e atitudes que manifestem e comuniquem a fé e o sentimento de adoração.

Afirma um trecho da Sacrosanctum Concilium: “Para promover uma participação ativa, trate-se de incentivar as aclamações do povo, as respostas, a salmodia, as antífonas e cânticos, bem como as ações e gestos do corpo” (n.º 30). Naturalmente, o documento não admitiria certas missas que têm muito de espetáculo ou até de show. Isso pode até impressionar e atrair multidões, mas dificilmente revelar o mistério que é parte íntima da liturgia, e que, sem dúvida, não se revela no barulho, mas sim num clima de fé e de reflexão profunda.

 

LITURGIA E ESPIRITUALIDADE

Na liturgia, acontece a vida da comunidade. Quando uma comunidade tem uma vida litúrgica fraca, sem fervor e criatividade, revela que a mesma é sem vida, desanimada, sem perspectiva, sem alegria. Muitos(as) aparecem nas celebrações, sobretudo da Santa Missa, apenas uma vez por semana. E se essa celebração não for alegre, viva, se não for acolhedora e não transmitir vida, as pessoas acabam desanimando e desistindo de participar.

A liturgia deve ajudar a estabelecer um profundo encontro com Deus, como aquele que só é capaz de abastecer a nossa vida para caminharmos na esperança. Para que o povo de Deus tenha a força necessária para navegar para “águas mais profundas”, e assumir sua missão no mundo, as celebrações litúrgicas devem proporcionar-lhe momentos de profunda espiritualidade, de vibração de contatos vivos com Deus e com os irmãos na fé. Quando bem vivida, a liturgia constrói a grande família dos filhos de Deus.


Pe. Paulo De Coppi

PARA REFLETIR

  1. O que entendemos por liturgia?
  2. Em que consistia a reforma litúrgica proposta pelo documento Sacrosanctum Concilium?
  3. Como são as celebrações de sua comunidade?
  4. Como explicar a pouca participação das crianças, dos adolescentes e dos jovens na Santa Missa?


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